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KIM PRISU No Espaço Cultural P.I.A

espinal Medula e José Valério Eloy na inauguração da exposição do Kim Prisu na PIA

A cooperativa cultural PIA teve a honra de apresentar no seu espaço uma exposição do pintor Kim Prisu. Esta exposição decorreu entre 8 e 30 de Novembro de 2003, com o título “Deixem-me dançar em várias vibrações”. (...)
(...)Residindo actualmente em Pinhal Novo. Nesta localidade, foi lentamente tomando contacto com as pessoas e com as actividades culturais que por cá se fazem. Foi desta forma, que conheceu a Cooperativa Cultural PIA, onde hoje é já um colaborador activo. A sua exposição integrou-se no ciclo de exposições mensais desta colectividade.
Aos poucos as paredes começaram a encher-se de cores, formas e palavras. O verde e azul do espaço PIA, começa a ser invadido por estranhos personagens, habitantes das suas telas, unidos entre si pela pessoa que os criou. Entre eles, há um que grita em silêncio, não mais parou de gritar, audível a um ponto que chega a perturbar. Da sua boca escapam se (ou entravam?) pregos. Um grito de revolta, o primeiro grito e o ultimo, talvez um eco de alerta para o que a irracionalidade humana pode provocar.
Os quadros de Kim, convidam à conversa. Fazem-nos perguntas e depois não as respondem. Dizem-nos para os olharmos com atenção, que havemos de descobrir sempre algo mais. Fazem lembrar raras pessoas que nos podem surpreender. E estes quadros dizem mesmo muito. De várias maneiras. Dizem, se observados de longe, que são um todo, numa harmonia conseguida através da forma, cor e movimento, ao mesmo tempo que nos puxam para perto de si. Dizem mais perto, quando com eles iniciamos um diálogo quase em sussurro. Contam-nos a sua história através das letras, caligrafias com que Prisu nos leva ao(s) significado(s) dos seus quadros. Descobrimos segredos, ideias, convicções, sobreposições e enredos. Maneiras de ser e de estar num mundo que terá sempre tanto para descobrir e admirar. E depois a energia, a luz, a vida que lhes preside. Como se fossem feitos devagar, sem regra que não a de serem eles próprios, alheios a relógios cinzentos, que nunca tiveram direito a estar no pulso do autor.
De facto, quem quiser contemplar a pintura de Kim Prisu tem de ver mais do que simplesmente olhar. E um dia só não basta. Por vezes as suas telas são tímidas, não nos dizem tudo à primeira, é preciso ter paciência, insistir, ler nas entrelinhas, literalmente. E foi isso o que algumas pessoas que visitam o espaço PIA fizeram. Deixaram-se conduzir pela curiosidade, motivados pelo que queriam ver. Um pormenor interessante: quase sempre o artista estava presente, disposto a servir de guia a uma viagem ao seu mundo. Desta forma, algumas noites no espaço PIA foram passadas a abordar a pintura exposta, numa interacção entre um público que se mostrou interessado e um pintor que gosta tanto de ensinar como de aprender. Para Kim Prisu “a arte é uma coisa interactiva”, sendo “uma forma de comunicar aquilo que não se pode comunicar por palavras, porque nem tudo se pode explicar por palavras”. Revela-nos que lhe dá uma grande satisfação falar de arte com pessoas que normalmente não falam de arte e deixar os seus quadros serem apreciados pelas pessoas comuns, não por críticos de arte profissionais, ouvindo com atenção aquilo que elas tem para lhe dizer. A sua pintura é feita de poesia em estado puro, numa mistura de cultura urbana com os campos da sua infância, onde por certo a luz reinaria. Descobri-la é tornarmo-nos arqueólogos das telas, buscando sempre mais um pormenor a cada olhar: uma palavra emprestada de um poeta, uma figura que não se tinha reconhecido ao longe, uma cor escondida, a referência a um acontecimento recente. Depois afastamo-nos, olhamos de longe e tudo isso desapareceu. O que fica é uno: equilíbrio seguros, contrastes suaves, letras que se transformam em traços, linhas e ritmos, cores fortes e intensas. De resto, a sua predilecção por cores puras (diria musicais), já lhe valeu o apelido de “o pintor eléctrico”.
Por fim, percebe-se que a sua arte traz uma mensagem. Fala-nos do bem e do mal e de como nós somos responsáveis por ambos. Diz-nos que o mundo que temos pode ser bem melhor. Basta querer e não ter medo de sonhar. Uma arte para todos os que têm olhos para ver através da alma, um dicionário das cores e da luz. Deixemo-lo então dançar, e sobretudo pintar, em várias vibrações!
ANTÓNIO XAVIER

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